Ao usar a Petrobras para tentar resolver os problemas do país, o governo está asfixiando a maior empresa brasileira. Hoje, ela é a pior entre as grandes companhias de petróleo do mundo.
O endividamento é o maior: responde, hoje, pelo equivalente a 2,8 vezes sua geração de caixa. As concorrentes estrangeiras devem, em média, 0,6 vez sua geração de caixa. “O governo brasileiro está matando a Petrobras”, diz Iain Reid, analista do banco de investimento americano Jefferies.
Num relatório enviado a clientes, o Deutsche Bank afirma que “as políticas governamentais criaram distorções que tornaram a Petrobras um caso único [no sentido negativo] entre as petroleiras globais”.
A destruição em curso é um crime com um culpado, mas perpetrado de diferentes maneiras. Tudo começou com a descoberta do pré-sal e a subsequente mania de grandeza que hipertrofiou a empresa ao ponto do imobilismo.
Em um de seus discursos, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o pré-sal era uma “dádiva de Deus” — e que cabia ao governo garantir que as riquezas geradas a partir dali ficariam nas mãos do povo brasileiro.
Tudo bonito no discurso; na prática, foi exigir demais de uma empresa só. Em 2010, o governo criou um novo marco regulatório exclusivamente para dar à Petrobras um domínio absoluto na exploração do pré-sal. A companhia foi obrigada a ser dona de pelo menos 30% de todos os blocos licitados pelo governo.
Ficou definido também que a estatal seria a operadora de todos esses blocos, mesmo quando tivesse uma sócia estrangeira. Para executar a tarefa, seria necessário levantar um caminhão de dinheiro, e assim foi feito.
Em 2010, a Petrobras fez a maior capitalização da história, levantando 120 bilhões de reais, dos quais 45 bilhões foram para seu caixa. Mas de lá para cá ela se dedicou, com afinco, a torrar esse dinheiro nos lugares errados.
Medo da inflação
Se for preciso elencar uma causa principal para que a Petrobras se tornasse a pior empresa do setor, essa causa sem dúvida é a transformação da companhia num instrumento usado pelo governo federal para controlar a inflação. O preço da gasolina vem sendo mantido artificialmente baixo por quatro anos.
Como a Petrobras é obrigada a importar parte da gasolina vendida no país (foram 13% no ano passado), paga a cotação do combustível no mercado internacional — que, infelizmente, não é ditada por Brasília — e vende aqui a valores subsidiados. Quanto mais gasolina ou diesel a Petrobras vende, mais perde dinheiro.
Nos últimos dois anos, a empresa já perdeu 33 bilhões de reais apenas com a defasagem de preços. Foram 23 bilhões de reais somente em 2012. Em janeiro, o governo aumentou o preço da gasolina em 6,6% e o do diesel em 5,4%. Mas o aumento não fez cócegas no problema. A defasagem ainda é de 13% na gasolina e 24% no diesel.
Nesse patamar, a Petrobras perderá 23 bilhões de reais em 2013. Ou seja, toda a dinheirama da maior capitalização da história será queimada em menos de três anos para tentar segurar, de maneira mambembe, a inflação.
*Roberta Paduan e Maria Luiza Filgueiras, d
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