O senador Delcídio Amaral (PT-MS) aproveitou seu primeiro depoimento à Polícia Federal para mandar recados em todas as direções.
Mandou primeiro para a presidente Dilma. Disse que ela o consultara, quando era ministra das Minas e Energia do primeiro governo Lula, sobre a indicação de Nestor Cerveró para a diretoria da Petrobras.
Segundo ele, Dilma conhecia Cerveró desde a época em que era secretária municipal de energia de Porto Alegre.
A revelação de Delcídio deixou Dilma indignada. Ela voltou a insistir que jamais consultou ninguém antes de nomear Cerveró. Até por que não foi ela que o nomeou.
Cabe ao presidente da República nomear os diretores da Petrobras. Foi Lula quem nomeou Cerveró.
Em seguida, Delcídio mandou recado para o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP). Afirmou que ele está preocupado com a situação de Jorge Zelada, ex-diretor da Petrobras, envolvido na roubalheira da empresa.
Temer soltou uma nota desmentindo Delcídio. Admitiu ter sido apresentado a Zelada. E nada mais do que isso. Resmungou mais tarde para o jornalista Gerson Camarotti, da Globo News:
- Não vou deixar que um Delcídio qualquer manche minha biografia.
Ao referir-se a Temer, Delcídio quis dizer ao PT que mesmo preso, alvo de constrangimentos, ele ainda serve aos interesses do partido.
Enfraquecer Temer é bom para o PT, que não gosta dele. Irritar Dilma também é bom porque o PT não gosta dela. Apenas a atura.
Finalmente, Delcídio mandou recado para Lula ao suspender o depoimento pela metade depois de informado de que ele o criticara.
Quem assistiu ao depoimento conta que Delcídio “descontrolou-se”. Jamais imaginara que Lula seria tão duro com ele.
Os dois são grandes amigos. Mais do que isso: são cúmplices em jogadas políticas. Delcídio sentiu-se traído por Lula.
Não só por Lula. O PT abandou-o. E fez questão de marcar o abandono com a divulgação de uma nota.
Os colegas de Delcídio no Senado deram-lhe as costas ao referendar a decisão do Supremo Tribunal Federal de prendê-lo.
O governo abandonou Delcídio. Por meio de Ricardo Berzoini, ministro das Relações Institucionais, disse que a prisão de Delcídio não se deveu às suas atividades de líder do governo no Senado.
Quis dizer: Delcídio agiu em proveito pessoal.
Nada é mais perigoso do que uma pessoa acuada. Delcídio está acuado. Sem apoio de ninguém, nem mesmo dos amigos.
Uma pessoa assim, para sobreviver, costuma sair atirando. Ou mata ou morre.
* Ricardo Noblat