quinta-feira, 31 de março de 2016

A panela de pressão vai chegando ao limite.









O general Golbery do Couto e Silva foi um dos maiores e mais brilhantes estrategistas do regime militar iniciado em 1964. É de Golbery, até hoje, a única formulação teórica consistente sobre a geopolítica brasileira. Também foi de Golbery uma teoria que causa polêmica nos meios direitistas até hoje: a teoria da panela de pressão.
Segundo Golbery, o regime militar havia fechado a participação política aos mais jovens e aos setores progressistas. Ao criar um bi-partidarismo na marra, acabou por transformar a atividade partidária em um jogo de elites conservadoras, mesmo entre aqueles que faziam oposição ao regime. Para compensar isso, Golbery entendia que o regime deveria franquear à esquerda as atividades culturais e o ensino superior. A crítica que se faz nos meios direitistas é a de que foi através desta franquia que a esquerda conquistou a hegemonia política e intelectual da qual vem desfrutando pelo menos desde 1994.
Mas deixemos a polêmica de lado. Não é disto que este artigo trata. Parto do princípio de que Golbery estava certo. Não tivesse franqueado nenhum canal institucional à esquerda e aos jovens, a luta armada teria engrossado para muito além do que as pífias guerrilhas jamais sonharam ir. Com a teoria da panela de pressão, Golbery conseguiu manter o regime por longos 21 anos, além de coordenar a transição de poder sem qualquer retaliação aos seus próceres.
Hoje o Brasil vive um momento dramático. O Partido dos Trabalhadores está há longos 14 anos monopolizando o poder na esfera federal, uma esfera que como sabem todos, concentra a imensa maioria dos recursos financeiros do país. Com esta hegemônia, o PT cometeu crimes em série. Os crimes foram demonstrados às fartas no mensalão. E não apenas tiveram continuidade, como sofreram um upgrade que os elevou para a escala do maior escândalo de corrupção da história conhecida no Planeta.
Sérgio Fernando Moro, do alto de seus 42 anos de idade, deu à Nação o sentimento de que seria possível resolver esta crise no marco institucional. A Operação Lava-Jato orgulhou todo o país, fazendo com que acreditássemos que os poderosos e muito ricos também estavam ao alcance da lei.
A coisa começou a degringolar quando o ministro Teori Zavascki concedeu liminar tirando de Moro a competência sobre a investigação na fase envolvendo Lula. A nomeação de Lula ao ministério estava suspensa. Os grampos que pegaram a Presidente da República não ensejaram nova investigação e Moro sequer insinuou que Dilma fosse investigada. Entretanto, Teori entendeu que o STF é órgão competente para decidir o quê é ou não de sua competência. Um absurdo que foi desmontado hoje pelo brilhante voto divergente de Marco Aurélio de Mello, mas que acabou confirmado pelos outros oito ministros.
A decisão de Teori ensejou reações exacerbadas nas redes sociais. Reações com as quais de modo algum concordamos ou compactuamos. Mas que tem sua razão de ser em um país com uma grave crise, com milhões ficando desempregados, com a moeda perdendo poder de compra e com uma Presidente que fez de seu mandato a razão exclusiva de existir. Dilma usa a Presidência para continuar presidindo: e só.
A panela de pressão da crise nacional vai chegando ao limite. Pudemos ver isso nas reações dos leitores deste Sul Connection após a decisão, inclusive atacando o quê entendem ser uma ingenuidade gigantesca de nossa parte ao acreditar nas instituições.
Continuamos acreditando. Continuamos achando que a crise deve se resolver no marco legal. Mas assim como o diretor da revista Época, Diego Escosteguy, que registrou o óbvio em seu twitter após a liminar de Teori, é imprevisível a reação popular nas ruas.
Que Deus proteja o Brasil!

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