A notícia de que vão abrir um museu para o lulismo me fez lembrar uma passagem remota de minha infância.
Certa feita, lá nos meados da década de 1980, caiu um minhas mãos um texto que jamais esqueci.
Era um panfleto de um sindicato, creio que de professores (minha mãe era professora numa instituição de ensino federal). O texto se referia a um candidato a presidente, ou melhor, transcrevia uma crítica bastante feroz a esse candidato, aliás bastante preconceituosa. Dizia, entre outras coisas (pego de memória, mas não deve ser difícil achar na internet): o sujeito vinha de baixo, era um grosseirão, era rude, tinha maus modos, vestia-se mal, não sabia se comportar em sociedade etc. etc. Era, enfim, alguém totalmente desqualificado. Como se poderia pensar em tal indivíduo como presidente da República?, concluía.
Logo depois de fechar aspas, o autor do texto dizia o seguinte (mais uma vez, faço-o de memória): "Sabem de quem o crítico acima estava falando? De ABRAHAM LINCOLN, décimo-sexto presidente dos Estados Unidos da América, o homem que libertou os escravos" etc.
Até aí, nada de mais, diria o leitor. Mas o interessante veio depois. Na frase seguinte, o texto comparava Lincoln com um político que se lançava então candidato, ou que já preparava o caminho para ser candidato, ao cargo maior da nação. Assim como Lincoln, diziam o texto e o subtexto, esse político era criticado por "vir de baixo" e ser "grosseiro, rude, ter maus modos" etc. Assim como Lincoln, ele seria vítima de preconceito. O nome dele? Luiz Inácio Lula da Silva... (!!!).
Vocês lembram? Na época, Lula era o único homem sério e honesto no Brasil. O culto da personalidade criado pelos petistas em torno da figura de Lula levava-os a compará-lo ao maior presidente da História dos EUA, e um dos líderes mais importantes de todos os tempos. Lula já era considerado um santo para muita gente. Não por acaso, ele logo se compararia a Tiradentes e a Jesus Cristo. Como disse Nelson Rodrigues já em 1980, Lula não fizera, até então, rigorosamente nada, mas já era um Napoleão, era um Gêngis Khan. Para enaltecê-lo, valia tudo. Até esquecer fatos importantes e distorcer a História.
O que os devotos da seita lulista esqueceram? Talvez as imagens abaixo forneçam uma dica:
Abraham Lincoln, the Rail-splitter, de Norman Rockwell (1965). Era assim que Lincoln passava os dias entre um turno e outro de trabalho...
O jovem Lincoln lendo à luz da lareira. Comparem com as atividades preferidas do jovem (e do velho) Lula: peladas e churrascos com a companheirada...
O jovem Abe indo para a labuta diária. Observem o objeto que ele leva nas mãos e que observa atentamente.
"Tão chato quanto andar de esteira..." Um Lincoln já maduro ensinando o prazer da leitura para seu filho, Tad.
E, para finalizar, vejam esta capa de um livro infantil sobre a juventude do presidente norte-americano, nascido numa cabana e que trabalhou como lenhador antes de se formar em Direito (o título é: "Abe Lincoln - o menino que amava os livros):
Creio que as imagens acima, para usar um velho clichê, valem mais do que mil palavras. E, certamente, por um milhão de panfletos de sindicatos petistas com louvores ao Apedeuta.
Nem seria necessário lembrar, mas faço questão de dizer assim mesmo: é nos detalhes - nesse caso, num hábito - que está a diferença entre um estadista e um farsante. São coisas assim que fazem os grandes homens. E as grandes nações.
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P.S.: Somente para que não acusem o autor deste texto de (oh, horror!) preconceituoso e de chamar o Estimado Líder de analfabeto e preguiçoso, eis uma foto que desmente todas as críticas ao apedeutismo de Lula, mostrando-o no auge da atividade intelectual:
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P.S.: Somente para que não acusem o autor deste texto de (oh, horror!) preconceituoso e de chamar o Estimado Líder de analfabeto e preguiçoso, eis uma foto que desmente todas as críticas ao apedeutismo de Lula, mostrando-o no auge da atividade intelectual:
Então? É ou não é o Lincoln brasileiro?
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