Obra-Prima do Dia (Semana de El Greco)
Já mencionamos aqui que El Greco se relacionava com a intelectualidade de Toledo, sendo ele mesmo um profundo estudioso, um homem apaixonado pela leitura.
Fez amigos como o poeta Luis de Góngora, teólogos, médicos, professores, padres, humanistas e advogados, escultores e pintores. Há poucos nobres entre os amigos de El Greco, são raros os nomes cujo título de nobreza podia ser a única referência.
Estudioso de teologia, ele se alimentava com os ensinamentos de Santa Teresa de Ávila e de São João da Cruz. A filosofia mística e teológica desses santos espanhóis pode ser percebida em toda a obra de El Greco.
A conselho do governo da vila, em plena Inquisição, a ortodoxia das telas de El Greco passava pelo crivo do doutor em teologia Pedro Salazar de Mendoza que, ao que tudo indica, foi o primeiro proprietário do quadro que hoje mostramos, Vista de Toledo.
Todos esses amigos possuíam obras do pintor. O segundo homem na hierarquia da terrível inquisição espanhola, Pedro Girón, tinha em sua coleção uma tela do pintor, o que nos revela também um outro lado do homem El Greco...
Apesar de não ser mais a capital da Espanha, a vida intelectual e espiritual em Toledo era das mais fecundas em toda o país. A cidade era o centro eclesiástico espanhol e nela preponderava um ambiente intensamente religioso e místico, que combinava perfeitamente com o espírito do pintor.
Vista de Toledo sob uma tempestade é geralmente considerada como uma das primeiras paisagens pelo seguinte motivo: não é o pano de fundo de uma imagem e sim a própria imagem. É o tema único do quadro.
Um detalhe: é uma das duas paisagens de Toledo pintadas por El Greco que sobreviveram até nossos dias.
Não se sabe o motivo que o levou a pintar essa vista. Pode ter sido uma exaltação à cidade, tão querida por ele, ou apenas uma maneira de seguir seus estudos de luz e cromatismo; essa mesma obra serviu como modelo para paisagens de fundo de obras posteriores.
A visão tempestuosa de Toledo que o artista nos dá é de um poderoso impacto visual, cheia de mistério. Dos relâmpagos emana uma luz fria, cinzenta e fantasmagórica, que ilumina a cidade e destaca o conjunto de edifícios, principalmente a torre da Catedral.
El Greco confere um efeito dramático à cena com a utilização de variações de tons das cores verde, azuil e cinza, com linhas perpendiculares e retorcidas que desenham a vegetação, o rio e as fileiras de casas e monumentos.
Não sei se os estudiosos de Artes Plásticas concordarão comigo, mas a mim me parece que essa tela poderia ter sido assinada uns 300 anos depois - com os verdadeiros gênios, que são poucos, isso é comum: antecipam-se ao porvir.
Acervo Metropolitan Museum of Art, Nova York
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