A última batalha eleitoral deixou no ar um gosto de pólvora queimada.
Numa república futebolística, a diferença entre o bem e o mal está na cor da camisa que o seu time veste.
Os heróis são os que usam a cor de seu time. Os bandidos, os que vestem a camisa do outro.
Há um certo alarido político nas ruas depois que os seus ocupantes de sempre foram substituídos por outros, que vestem a camisa da cor errada. As ruas, como se sabe, são de propriedade exclusiva do PT, que está acostumado a ocupá-las com os diversos “movimentos sociais” que são ramificações subsidiárias do corpo central do partido.
Quando alguém sai às ruas vestindo camisas de outros tons e entoando palavras de ordem que desafinam da cartilha licenciada do grupo “hegemônico”, há sempre uma artilharia pesada pronta para primeiro desmoralizar e depois destruir a credibilidade de quem ousa marchar na contramão do fluxo oficialmente permitido e incentivado.
A última batalha eleitoral deixou no ar um gosto de pólvora queimada e fez aflorar um fenômeno que ainda carece de uma melhor tradução sociológica: as pessoas foram para as ruas destilar um sentimento de insatisfação/indignação com o governo e com o partido “hegemônico” que lhe dá sustentação política e justificação ideológica.
O rumor dessa corrente, nas ruas e nas redes sociais, fez a oposição instituída, partidária e parlamentar, despertar de sua longa letargia e empenhar o corpo e a alma numa memorável batalha congressual contra a lei que autoriza o governo a mandar a Lei de Responsabilidade Fiscal para o cemitério das boas ideias e das boas práticas administrativas.
O governo, com a habilidade e a sutileza que o caracterizam, ajudou a oposição a ganhar energia para uma batalha de antemão perdida, editando um decreto onde condicionava a liberação de uma elevação de 748 mil para as emendas parlamentares à aprovação da lei que oficializa a ficção do déficit superavitário, a mais extraordinária das jabuticabas. Precificou o voto sem disfarces e aumentou o clima de indignação.
O movimento das ruas, inorgânico e informal, surgiu fora dos quadros partidários, e com o vago objetivo de pedir o “impeachment" da presidente reeleita, não se sabe exatamente como e nem por qual razão específica, mas como reação ao mau cheiro que exala do novo monturo de corrupção e das mentiras usadas sem pudor e como método na campanha eleitoral.
A verdade é que os partidos de oposição foram a reboque dos descontentes e tiraram deles a energia que exibiram em plenário. Também se penduraram no movimento meia dúzia de lunáticos saudosos da ditadura militar, que não conseguiram atinar com o paradoxo de defender a democracia atentando contra ela.
A expulsão das galerias do Congresso dos manifestantes contrários ao projeto de lei que legalizou a irresponsabilidade fiscal, ordenada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, deixou mais evidente do que nunca que a “participação social” que o governo defende é condicionada ao controle que o aparelho partidário exerce sobre os diversos “movimentos”.
A verdade é que o PT está perdendo o monopólio das ruas e vai usar a sua “banda de música” organizada ou voluntária para tentar destruir a legitimidade de quem ousa manifestar-se fora da cartilha do partido. A máquina de moer reputações já está fazendo picadinho de quem tem a ousadia de cantar por outra partitura.
Oposição (Imagem: Arquivo Google)
Nenhum comentário:
Postar um comentário