quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Dilma, a Desaparecida do Cerrado, e a "recessão de salvação" como nova utopia.


Por Reinaldo Azevedo

Enquanto o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, defendia em Davos as medidas ditas de austeridade aplicadas no Brasil, fazendo um discurso que os petistas costumavam chamar de “neoliberal”, a presidente Dilma Rousseff, a Desaparecida, deu as caras na Bolívia: compareceu à terceira posse de Evo Morales, o índio de araque, que se vangloriou de os “Chicago’s boys” não mandarem em seu país. Nota: na língua ideológica de Evo, Levy é um “Chicago’s boy”. 

Qual presidente Dilma está no governo? A que sustenta Levy ou a que vai puxar o saco de bolivarianos? Convém não confundir esse ecletismo com pluralidade. Pode ser, e tudo indica que seja, falta de clareza. Dilma parece tentada a tocar cítara e flauta ao mesmo tempo, coisa que Paulo, o apóstolo, não recomendava. 

Janeiro vai chegando ao fim trazendo, adicionalmente, o fantasma da conjugação da falta de água nas regiões metropolitanas mais densamente povoadas do país com a falta de luz. Aquela que exige ser chamada de “presidenta”, no entanto, está muda. Parece imersa em sua perplexidade, sem energia para tocar nem cítara nem flauta. O PT está perdido. Vê desmoronar o seu castelo de cartas e, desta vez, não tem o que dizer porque já não tem mais como culpar… FHC!!! 

A falsa herança maldita de FHC mobilizava a fanfarronice de um partido falastrão, com suas soluções simples e erradas para problemas difíceis. Mas a verdadeira herança maldita, que é a do PT, calou a boca do… PT — e essa, convenham, é a única boa notícia nesses tempos de desolação. 

Nunca antes na história “destepaiz”, para citar o chavão do Babalorixá de Banânia, um governo se desmoralizou com tamanha rapidez. Dilma nem havia ainda tomado posse de seu segundo mandato, e suas promessas de campanha iam, uma a uma, descendo ralo abaixo. As burrices feitas pelo PT — oriundas, reitero, lá dos governos Lula — terão de ser minoradas (nunca corrigidas!) por um período de recessão econômica. E não que tenhamos experimentado, nos últimos quatro anos, uma farra, não é mesmo? 

Convém que a oposição se organize logo — agora, não depois — para ocupar esse vazio de discurso. É preciso definir com celeridade uma narrativa que dê conta da complexidade desse momento. Antes que Levy — que está aí tentando recuperar os escombros deixados pelo PT — passe por arquiteto de uma nova utopia. 

Como horizonte, o país merece um pouco mais do que uma recessão de salvação.

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