Olho do furacão – Em reportagem de página inteira publicada na edição de quinta-feira (15), o diário econômico francês “Les Echos” relata que “a maior empresa brasileira foi infiltrada por uma máfia ligada ao poder político”. Incapaz de apresentar seu balanço financeiro, destaca o jornal, a Petrobras é um “transatlântico à deriva”.
O diário adverte os investidores para o fato de que fundos que detêm títulos da Petrobras no exterior, principalmente os chamados fundos abutres, flertam com a colossal dívida da estatal. Maior empresa brasileira e atuando em várias partes do planeta, a Petrobras, que um dia já foi o orgulho do País e tem valor de mercado estimado em US$ 100 bilhões, está desmoronando na esteira de um cipoal de escândalos que cresce com o avanço da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.O “Les Echos” explica o escândalo de corrupção desde o início, a partir da prisão do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, que assinaram acordos de delação premiada para diminuir eventuais condenações.
O jornal francês revela a cobrança de comissão (3%) nos contratos com fornecedores, a fim de financiar o caixa dois dos partidos políticos no poder. O noticioso revela também as tentativas de denúncia da geóloga Venina Velosa, ex-gerente da estatal; os contratos superfaturados; a conivência das empreiteiras, ou seja, um apanhado de tudo o que os brasileiros, “completamente aturdidos”, têm ouvido e visto nos jornais e na TV desde março de 2014, quando foi deflagrada a operação da PF.
A Operação Lava-Jato, que só foi possível por causa das denúncias feitas pelo editor do UCHO.INFO, jornalista Ucho Haddad, e elo empresário Hermes Magnus, no início de 2009, tem semelhanças com a operação “Mãos Limpas”, que desmantelou as ligações da máfia com os políticos e juízes na Itália. Contudo, conforme destaca “Les Echos”, o Brasil está longe de tirar do escândalo do Petrolão as mesmas lições que levaram os italianos a repensarem as relações bisonhas entre o poder e o crime organizado.
O “drama” da Petrobras ultrapassou rapidamente as fronteiras do Brasil. As ações da petroleira estão em queda livre nos mercados internacionais e fundos abutres manobram para cobrar rentabilidade antecipada, reporta o jornal.
Alvo de investigação nos Estados Unidos, a Petrobras acumula dívida de US$ 135 bilhões e precisa de novos empréstimos para explorar as reservas do pré-sal, relata o diário francês. Se a empresa não publicar seu balanço do terceiro trimestre do ano passado, que auditores independentes se recusaram a endossar diante da possibilidade de maquiagem das contas, a empresa será punida e os fundos abutres certamente cobrarão compensações financeiras milionárias.
Nesse profundo e fétido mar de lama, que a presidente Dilma Rousseff afirma “vir de inimigos do exterior”, empresas francesas que fornecem para a Petrobras também podem sair prejudicadas.
O jornal “Les Echos” encerra a matéria com uma declaração do jurista Walter Maierovich, ouvido na reportagem: “A corrupção está ganhando terreno no Brasil. Caso medidas urgentes não sejam tomadas, o Brasil corre o risco de se tornar um país dominado por ladrões.” (Com RFI)
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