A palavra incontornável da semana, “carnaval”, tem a ver com carne? Claro que tem, mas as aparências enganam.
Em vez da carne humana que desfila pelas ruas em plena folia, desinibida e seminua, estamos falando da carne de animais – literalmente – comestíveis. E em vez de licença e permissividade, a palavra em sua origem traduzia o oposto: interdição, veto.
Interdição? Veto? Pois é: às vezes a história das palavras lembra o “Samba do crioulo doido” de Stanislaw Ponte Preta, mas no fim tudo se explica.
Ou quase tudo.
A palavra foi importada no século XVI do italiano carnevale, derivada, segundo a maioria dos filólogos, da expressão latina carnem levare, que significa suspender a carne, dar adeus a ela, afastar-se dela.
“Carnaval” referia-se inicialmente apenas à Terça-Feira Gorda, véspera da Quarta de Cinzas, quando começa a Quaresma, que uma tradição católica (um tanto esquecida hoje) mandava consagrar inteiramente ao jejum – a hora, portanto, de suspender o consumo de carne.
Sim, é óbvio que, por trás da aparente severidade, a ideia de excesso já acompanhava a palavra em seu nascimento: nas últimas horas antes da interdição da carne, abusava-se de seu consumo.
De toda forma, a etimologia de carnaval não é de todo pacífica. Entre outras teses, já gozou de prestígio popular a de que a palavra viria de carrus navalis, “carro naval”, uma espécie de precursor romano dos carros alegóricos das escolas de samba.
Seria uma origem divertida, mas não conheço nenhum filólogo sério lhe dê crédito hoje.
Bom carnaval a todos!
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