Na entrevista concedida ao “Bom Dia Brasil”, que foi ao ar nesta segunda, Dilma Rousseff era o retrato do fim da era da mistificação petista. Essa era contou, sim, com o endosso de setores importantes da imprensa, que não entenderam o que ia nos subterrâneos daquele “modelo” — se é que se pode chamar assim —, que usou um período especialmente favorável da economia internacional, marcado pela alta demanda da China e pela elevação das commodities, para distribuir alguns parcos benefícios, ensaiar uma política pífia de distribuição de prebendas e trombetear o fim da miséria.
A fortuna sorriu aos governos petistas, e os companheiros, afoitos, sob a condução do ogro amoroso e bonachão, a transformaram em consumo, deixando para as calendas reformas essenciais que nos conduzissem a um ciclo de crescimento longo e sustentado. Não só essas reformas não foram feitas como foram demonizadas pelos companheiros. O PT começou a articular o discurso no medo — o partido que chegou falando em “esperança”… — já na eleição de 2006, quando se lançou o espantalho da privatização das estatais. O tema foi retomado em 2010 e, ainda que com novo conteúdo, chega ao paroxismo agora, quando acusa os adversários de querer roubar a comida da mesa dos brasileiros.
Nesta segunda, o boletim Focus previu uma expansão de apenas 0,3% do PIB neste ano, com juros de 11% e inflação bem perto do teto da meta: 6,3%. Para o ano que vem, as perspectivas não são muito animadoras: crescimento de 1,01%, Selic de 11,25% e inflação em 6,28%. Atenção! O quadriênio de Dilma tem tudo para ser o pior da história “no que se refere” (como diz a governanta) ao crescimento: média de 1,55% — contra 2,58% no primeiro mandato de FHC, 2,1% no segundo; 2,55% no Lula I e 4,48% no Lula II. Nota à margem: parte das dificuldades da presidente deriva de irresponsabilidades cometidas no segundo mandato de seu antecessor. Mas não vou entrar nesse particular agora.
Dilma foi questionada a respeito na entrevista concedida ao “Bom Dia Brasil”. A íntegra, com o link para o vídeo, está aqui. De fato, ela não tem a mais remota ideia do que aconteceu e do que está em curso. A presidente insiste em culpar o cenário internacional, mas não consegue explicar por que outros países, nesse mesmo cenário, estão em situação muito melhor. Restou-lhe ensaiar uma glossolalia sobre a economia mundial e foi atropelando tudo: fatos e lógica. Apontou uma inexistente deflação nos EUA, errou a taxa de crescimento da Alemanha, foi dizendo o que lhe dava na telha.
Até o que faz sentido em sua fala — de fato, o Banco Central nos EUA (Fed) não se limita a arbitrar taxa de juros; também leva em consideração a expansão da economia e o emprego — se perdeu num discurso desordenado e defensivo. Afinal, ela destacava essa tríplice preocupação do Fed, suponho, para enfatizar que uma independência absoluta do BC, descolada de outras preocupações, tornaria um país refém de uma única variável. Uma conversa madura e sensata a respeito, pois, passaria por um debate sobre as atribuições do Banco Central e o alcance da autonomia ou independência.
Mas aí seria uma conversa séria, fora da estúpida rinha eleitoral. Como Dilma está em pânico, e interessa colar nos adversários, especialmente em Marina, a pecha de “candidata dos banqueiros”, restou-lhe o constrangimento adicional de ter de defender a campanha eleitoral terrorista que seu partido vem fazendo.
Comecei este post afirmando que a entrevista foi a expressão do fim de uma era. O PT hoje quer o poder para que possa… continuar no poder. É compreensível que os mercados fiquem desarvorados quando se avalia que crescem as possibilidades de reeleição de Dilma. Nessa hipótese, ninguém vê motivos para prever quatro anos futuros muito distintos desses últimos quatro.
Entrevistas como a concedida ao “Bom Dia Brasil” sempre oferecem a chance de se vislumbrarem alguma luz, algum rasgo de clareza, algum caminho. E o que se viu foi um discurso envolvo numa névoa de anacolutos e irresoluções.
Se Dilma for reeleita, dá-se como certo que não haverá bons dias, Brasil!
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