Em 2001, o país enfrentou racionamento de energia. Após um período de negativas e de tentativas de culpar a natureza, por falta de chuvas, ficou comprovada a ausência de investimentos em expansão da capacidade de geração e de transmissão como a verdadeira causa.
Após uma década, a ameaça de racionamento volta à agenda. A probabilidade ainda é baixa, mas não é prudente descartá-la.
Os níveis dos reservatórios de hoje são semelhantes aos do início de 2001. Há uma capacidade de geração termelétrica de 14.000 MW, muito superior à de 2001, e houve a expansão da capacidade hidrelétrica.
Mas o consumo de energia quase dobrou desde então. Dessa forma, ainda que a probabilidade de uma nova catástrofe energética seja baixa, ela está fora do controle direto das autoridades.
Dependemos novamente do comportamento da hidrologia de janeiro a março. Até o momento, ele é crítico nas nascentes dos rios Paranaíba, Grande e São Francisco, nos Estados de Goiás, São Paulo e Minas -região conhecida como "caixa-d'água" do país, por ser a formadora das bacias do Paraná e do São Francisco, onde está a maior parte da capacidade de geração.
A situação seria pior se o PIB tivesse crescido como esperado e se a produção industrial tivesse evoluído.
Esse quadro poderia ter sido evitado com planejamento e implantação de projetos hidrelétricos e eólicos, cogeração com biomassa e gás natural, além de ênfase nos programas de uso racional de energia, deixados em segundo plano na última década.
Não faltam alternativas de recursos naturais nem tecnológicos ou humanos. Faltam planejamento, organização, gestão e definição de papéis e responsabilidades.
Foram insuficientes e inadequadas as reformas implementadas em 2004, sob a liderança da então ministra e atual presidente.
Em 2006, a Diretoria de Gás e Energia da Petrobras enviou relatórios ao Ministério de Minas e Energia alertando para as graves lacunas do modelo implementado. Apontava a alocação assimétrica de riscos e custos entre agentes públicos e privados e a instabilidade na garantia da oferta.
A operação continuada de todo o parque termelétrico, que gera um custo mensal perto de R$ 1 bilhão, a ser rateado entre os consumidores, confirma a falta de coordenação entre o planejamento e a contratação da expansão.
Em condições normais, as térmicas poderiam ser desligadas após o início das chuvas, em novembro. Mas terão de continuar operando até que a hidrologia melhore.
Está na hora de promover uma profunda reforma no setor energético brasileiro. A crise elétrica afeta o mercado de gás natural, que pressiona ainda mais o de gasolina e de outros derivados, o que, por sua vez, gera indefinições no setor de etanol.
Os custos e as incertezas afetam o equilíbrio e a tranquilidade da economia.
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